Tudo depende da idéia que fazemos da natureza e das funções da universidade. Se jamais pensamos em nos perguntar por que ela está aí, como é e o que ela representa, podemos exigir dela qualquer coisa. Faremos dela uma espécie de grande supermercado da cultura, onde cada um irá procurar o menor preço, o menor esforço, aquilo de que tem necessidade, sem se preocupar com as particularidades dessa instituição. E lamento dizer: uma universidade das massas é uma contradição por definição, e uma desonestidade intelectual. Toda essa imensa agitação presente diz respeito a preocupações puramente quantitativas. Todas as dificuldades são expostas, para depois serem resolvidas, ao menos no papel, em termos estatísticos — como se se tratasse de uma questão técnica análoga à de como resolver o fluxo de passageiros no metrô em horário de pico. Os usuários das faculdades solicitam — aparentemente com toda a razão — um mínimo de espaço vital em termos de metros quadrados; pretendem arrancar do Estado-patrão casa e comida, assim como ajudas financeiras e bolsas de estudo cada vez mais substanciosas. O Estado, do seu lado, necessita de um número cada vez maior de engenheiros, técnicos e cientistas. Assim, as verdadeiras perguntas jamais são feitas, ou seja, aquelas que dizem respeito à própria natureza e vocação do ensino superior.