Caríssima leitora, mulher independente e competente, sereis capaz de dizer tudo que pensais a vosso chefe? Caro canalha, direis tudo que já fizestes contra a vossa retíssima esposa? Padres, nas homilias dominicais da santa missa, sereis corajosos o suficiente para publicar todas as vossas taras? Pastores, sereis desinteressados o bastante para doar todos os vossos bens pela evangelização dos povos da Terra? Manifestantes, amantes da justiça, gritaríeis aos sete cantos do mundo se fosse o ódio, puro e simples, que vos encanta a cada gesto revolucionário? Fracassado, confessarias aos homens a vossa preguiça? Rico, quais os livros que foram lidos daquela vossa suntuosa estante, localizada na apoteótica sala de estar onde recebeis vossas visitas? Solitário, cultuais a solidão porque a amais ou, ao contrário, sois terrivelmente insuportável? Professores, amais a verdade ou os louros da bajulação acadêmica? E vós, caro leitor, acreditais que a democracia é a melhor forma de governo? Que o amor de uma mãe por seus filhos é natural e não um hábito social que pode ser perdido? E quando vossa namorada lhe diz, olhos nos olhos, Eu te amo, acreditaríeis? Marido, cidadão honesto e honrado, como quase todos acreditam ser, gestor de uma empresa bem-sucedida, chefe de uma família tão feliz quanto naquelas das propagandas de manteiga light, tendes certeza que, em vosso leito de amor, vossa esposa em vós pensais durante uma transa intensa? Ora, quem não mente que atire a primeira pedra!