Tudo começa quando a revista Harper’s encomenda, no início dos anos 2000, um texto sobre suicídio em Las Vegas ao escritor John D’Agata e desiste de publicá-lo por causa de imprecisões factuais. Em seguida, outra revista, chamada The Believer, assume o texto, mas, antes de encaminhar para publicação, submete o trabalho ao checador Jim Fingal.
Como uma espécie de making of literário, A vida curta de um fato mostra a correspondência entre o autor e o checador ao longo sete anos (entre 2003 e 2010), até a publicação do texto “As coisas que acontecem lá”.
O livro quebra o ensaio de D’Agata em trechos que aparecem no alto de cada página. Abaixo deles, Fingal indica as informações que procedem e é implacável ao apontar erros factuais e liberdades tomadas pelo escritor, que responde a (quase) todas as contestações do checador. No texto, fontes tipográficas diferentes indicam quando um fato é confirmado ou contestado.
Como bônus, a edição brasileira inclui o texto final, editado e publicado em 2010 no site da Believer. Assim é possível ver as decisões tomadas pelo editor ao fim do processo de checagem.
Em síntese, A vida curta de um fato permite ao leitor acompanhar um embate feroz entre duas pessoas inteligentes com pontos de vista absolutamente distintos. Uma disputa que, ao falar sobre os limites de um texto literário baseado em fatos, analisa também a relação que escritores e leitores têm com a literatura – de ficção e de não ficção.