As frases são breves e graves. A narrativa, desde as primeiras linhas, de uma simplicidade solene. Cada palavra é preciosa, o silêncio também. Alusões e elipses permeiam o texto. Depois de Annam (Prêmio Premier Roman em 1993, Prêmio Deux-Magots em 1994), Christophe Bataille nos oferece outras cem páginas mágicas: Absinto. Não o dos cafés e dos poetas, que todos conhecem, mas o absinto dos campos, das destilarias perdidas em meio a montanhas, onde se colhiam a artemísia e a genciana para preparar o licor. Entre a realidade e a lenda, a história oficial registrada e as lembranças de infância, quase cinqüenta anos se passam, em torno de Jean Mardet, fabricante de sonhos. Ele aparece como soldado, acuado em 1871 na penosa defesa de um forte, em torturante espera do inimigo, atolado em silêncio sem fim, neve e massacres. Vê, ali, como pétalas de gosto amargo deixam uma estranha alegria no olhar dos companheiros mortos. Deserta, emigra, redescobre o poder da planta, volta à Provence apenas como José, destilador solitário. É observado agora por um menino que se inicia na prática – ou melhor, no culto – do liquido verde brilhante. Meio alquimista, meio feiticeiro, o herborista sabe as combinações do licor que traz o estado de graça, a pura ilusão, a possibilidade mística de reinventar o real. Ele reina sobre os sonhos, mas não para sempre. Em 1915, pouco depois de estalar o novo conflito entre França e Alemanha, a aventura termina, com a proibição da bebida. Não por coincidência, o livro, que trata da possibilidade do delírio, é delimitado por guerras. Do forte de Joux aos barulhentos cafés de Paris, quase meio século flui. É o quanto dura o percurso de Jean Mardet, antes que desapareça, junto com o absinto.