O livro de poemas Adverso de Juarez Poletto compõe-se de duas partes. A primeira traz ao leitor uma linguagem poética em que se mesclam a fala do poeta e a imagem ora vívida, ora difusa dos amigos e das amigas do poeta que sugeriram os motes para o poemas. Conhecendo esses companheiros de trabalho, verificamos que nos poemas que sugeriram, estão lá, vivem pelas palavras do poeta que soube, com maestria, profundidade e delicadeza captar essas figuras em suas complexidades de seres humanos, revelando-lhes os desejos, os prazeres, as sutilezas, o medo, a coragem. São poemas coletivos em que as vozes do poeta e dos amigos se entrelaçam sem um centro hegemônico. A linguagem flutua, dançando entre uma fala e outra, produzindo uma estranha polifonia, um discurso entre lá e o cá, entre o eu e outro, entre o lugar e o não lugar, construindo personagens que se constituem pela linguagem poética ora em consonância, ora em dissonância com o real. As palavras e o referente se articulam de modo concreto e volátil e o real que conhecíamos é deslocado visto que pensado e ressignificado pela poesia. Nas palavras de Mikhail Bakhtin podemos ver o real ora refletido, ora refratado nas palavras do poeta. Nossos amigos estão nos poemas, mas de um modo outro, talvez mais iluminados e esse é o sortilégio da poesia de Juarez Poletto. A segunda parte consiste em poemas esparsos em que verificamos o trabalho com a palavra, com a forma, dando vida, consistência à experiência. Aqui, várias vozes povoam os poemas, mas já com um centro organizador, enfatizando a voz autoral que emerge do sofrimento, da alegria, das reminiscências, do cotidiano das lutas do homem poeta frente à vida. O leitor de poesia, com certeza, vai encontrar em Adverso também a sua voz, mas estranhada pela articulação com a voz de Poletto, propiciando uma leitura outra de si mesmo.Professora Doutora Angela Maria Rubel Fanini