"Muitas pessoas ficam confusas e não raro enfezadas com as aparentes contradições da minha personalidade pública: filósofo e gozador sarcástico, pregador e pornógrafo, lógico e paradoxal, humilde e altivo, ora xingando, ora perdoando, ora fazendo as duas coisas ao mesmo tempo, ora educando e edificando, ora esculhambando e fodendo com tudo em torno. Tenho a consciência clara de que o Brasil me formou assim, de que reflito na minha pessoa e alma toda a sua complexidade, e de que só por ser assim consigo falar a todos os brasileiros, sem distinção, e — milagre! — ser compreendido quase sempre. O escritor é o sujeito que absorve o impacto da sociedade e devolve a experiência sob forma verbalizada, tornando-a mais clara e menos hostil à mente humana." "Quando condenso pensamentos nas fórmulas breves e abruptas, estou sempre consciente da complexidade que elas ao mesmo tempo ocultam e revelam. NUNCA escrevo uma linha isolada senão como lembrete de explicações cabais que podem ser dadas a qualquer momento, mas que na hora ultrapassam a minha capacidade de digitação. Se você se irrita com algo que escrevi, é quase sempre porque alguma intuição dessa complexidade começou a agitar-se no fundo da sua mente de maneira ainda vaga e confusa. Entre a irritação e o estímulo, a diferença reside apenas na sua capacidade de tomar distância e esperar."