O poema dramático 'Agamêmnon', de Sêneca, é um dos mais importantes textos da literatura latina clássica (século I d. C.). A presente edição é, assim, devidamente bilíngue, com as páginas pares trazendo o original em latim, e as ímpares a tradução (a cargo de José Eduardo dos Santos Lohner, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP). Tradução que, ainda em respeito ao original, adota o verso branco de 12 sílabas, ou seja, metrificado mas não rimado, como não rimada era a poesia da Antiguidade. A edição conta, também, com introdução, posfácio, notas, cronologia e bibliografia a cargo do tradutor. O tema central desse poema dramático (ou seja, texto que pode ser lido como um poema narrativo ou épico ou encenado como uma peça) é o conhecido assassinato de Agamêmnon por sua esposa Clitemnestra, quando aquele retorna vitorioso da guerra de Tróia. O assassinato do rei é motivado, nesta ordem, por ele haver ordenado a morte de sua filha Ifigênia (em sacrifício aos deuses), por sua conduta adúltera nos dez anos de guerra e pela própria Clitemnestra ter agora outro homem. O plot grego original, de que parte Sêneca, é portanto já bastante impactante, a partir do enorme contraste entre as circunstâncias da vida recente de Agamêmnon e sua morte. Pois ele vivera dez anos entre guerreiros, e na condição de chefe supremo, para vir a morrer pelas mãos de uma mulher, e dentro de uma banheira. Mas se o plot básico é o mesmo, as diferenças são enormes. O poema dramático de Sêneca reflete uma série de profundas mudanças literárias, formais e político-culturais em relação ao seu modelo, a tragédia grega. Tais mudanças, por sua vez, estão na raiz do próprio mundo moderno. A diferença fundamental pode ser resumida pela diferença entre drama e tragédia. Pois drama e tragédia não se confundem, como crêem os noticiários de TV.