O imenso e diversificado campo brasileiro sempre foi marcado por profundas desigualdades e contradições que se reproduzem a cada novo paradigma de modernização incompleta que se impõe, num complexo jogo de sucessões e coexistências que caracteriza a formação socioespacial brasileira.
Hoje, diante da preponderância das finanças, da busca desenfreada pela competitividade, da regionalização produtiva subordinada à globalização econômica, da reprimarização da pauta exportadora, da rápida difusão espacial seletiva das tecnologias da informação, da atuação, cada vez mais agressiva, da “bancada ruralista” no Congresso Nacional, como se reformulam as questões agrária e agrícola no Brasil? Como os pequenos agricultores e pecuaristas podem resistir e se fortalecer diante do avanço das grandes corporações financeiras, produtivas, tecnológicas e de comercialização? O livro Agricultura e espaços globalizados procura dar encaminhamento a algumas dessas importantes questões.
— Ricardo Castillo e Mait Bertollo,
Universidade Estadual de Campinas
A agropecuária brasileira tem passado por sucessivos processos de modernização ao longo dos últimos sessenta anos, num movimento compassado com as transformações do mundo, mediadas pela formação socioespacial. Do paradigma da Revolução Verde à difusão das Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação, aprofundam-se as contradições internas do campo brasileiro, à medida em que aumenta sua inserção nos mercados globalizados. Como já ressaltaram diversos pesquisadores, a integração externa do grande agronegócio brasileiro e a desintegração interna de seu espaço produtivo constituem um movimento dialético que se aprofunda desde, pelo menos, a década de 1990.
A reprimarização da pauta exportadora, o protagonismo das finanças globalizadas no mercado de terras e na agropecuária, a ascensão da logística corporativa na movimentação de produtos primários e semimanufaturados, a internet das coisas e outras tecnologias digitais no campo, a busca sem limites morais, ambientais e políticos pela competitividade regional produtiva no Brasil são alguns dos temas abordados neste livro, cujo objetivo é o de contribuir com o debate sobre as imprescindíveis mudanças estruturais no uso do território brasileiro capazes de reverter as desigualdades nele arraigadas há mais de cinco séculos.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PARTE 1: CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS, REDES E TERRITÓRIO
Capítulo 1 – Circuito espacial produtivo do leite fluido no Brasil: uma proposta
de periodização, Lucas M. Guide & Ricardo Castillo
Capítulo 2 – Competitividade regional do agronegócio sucroenergético no centro–sul do Brasil, Henrique Faria dos Santos & Mateus de Almeida Prado Sampaio
Capítulo 3 – Uso do território e agronegócio bovino de corte: a dinâmica recente da exportação de carne brasileira,
Glaycon Vinícios Antunes de Souza
PARTE 2: CIRCUITOS ESPACIAIS DA ECONOMIA AGRÁRIA: CONVERGÊNCIAS E CONTRADIÇÕES TERRITORIAIS
Capítulo 4 – Circuito inferior da economia agrária e logística dos pequenos: um estudo de caso a partir da Cooperativa de Produção e Comercialização da Reforma Agrária e Agricultura Familiar (COPCRAF), Heloísa Santos Molina Lopes
Capítulo 5 – Os dois circuitos da economia agrária: uma proposição teórico-metodológica, Matheus Dezidério Busca
PARTE 3: FINANÇAS E INFORMAÇÃO
Capítulo 6 – Imperativo Bieconômico, Land Grabbing e privatização da biodiversidade: considerações sobre a financeirização da terra e dos recursos naturais no Brasil, Marcel Petrocino Esteves
Capítulo 7 – Neoliberalismo e Land Grabbing: uso do território e contradições políticas, Ernesto Etulain
Capítulo 8 – Da fazenda ao garfo: o papel da informação no campo brasileiro globalizado, Mait Bertollo
PARTE 4: REGIONALIZAÇÃO E AGRONEGÓCIO GLOBALIZADO
Capítulo 9 – Agronegócio globalizado e especialização regional produtiva: metodologias para análise das principais culturas de exportação no Brasil, André Rodrigo Farias & Ana Carolina Torelli Marquezini Faccin
Capítulo 10 – Setor sucroenergético e uso do território: um panorama das áreas de fronteira na década de 2010, Fernando Mesquita
Capítulo 11 – Nós logísticos do agronegócio no Brasil: os portos do Projeto Arco Norte, Vanderlei Braga
SOBRE OS ORGANIZADORES
Ricardo Castillo
Bacharel e Licenciado em Geografia pela USP. Mestre e Doutor em Geografia Humana pela USP, com estágio na Universidade de Paris I. Professor e pesquisador do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação da Unicamp. Integrante do Laboratório de Investigações Geográficas e Planejamento Territorial (GEOPLAN) do IGUnicamp e coordenador do Grupo de Pesquisa Logística, Agricultura e Usos do Território Brasileiro (DGP-CNPq). Pesquisador nível 2 do CNPq.
Mait Bertollo
Bacharela e Licenciada em Geografia pela Unicamp. Mestra e Doutora em Geografia Humana pela USP. Pós doutorado e professora credenciada no Instituto de Geociências da Unicamp. Integrante do Grupo de Pesquisa Logística, Agricultura e