Desde o estabelecimento dos nexos entre experimentalismo artístico, cultura e política nos livros “Tropicalia, Alegoria, Alegria” (1979) e “A Invenção de Hélio Oiticica” (1992) – obras que se tornaram referências na historiografia da arte no Brasil –, Celso Favaretto dedica-se à análise da persistência do moderno e suas transformações nas práticas artísticas e no pensamento da arte contemporânea. Trata-se de uma fecunda reflexão, que mobiliza os trabalhos de outros filósofos e críticos de arte – Gilles Deleuze, Jean-François Lyotard, Giorgio Agamben, Jacques Rancière, Mário Pedrosa, Ronaldo Brito, entre outros –, em torno da ideia de que a arte contemporânea atua com reminiscências do moderno. Da psicanálise, Favaretto toma de empréstimo o termo perlaboração para operar como conceito da crítica de arte, abrindo a possibilidade de pensarmos a arte contemporânea como um vagar reflexivo por dispositivos modernistas. Analisando a produção artística brasileira desde os anos 1920 até as consequências do salto radical dos anos 1960, e em diálogo com o modernismo europeu e com as neovanguardas estadunidenses, os textos aqui reunidos constatam a indeterminação da arte contemporânea, arte que virou pensamento para além (ou aquém) da arte.
Paula Braga