O divertimento criativo, o humor potencialmente crítico, as características do humor como subversivas ou até mesmo a suposta bondade do humor são questões que não constituem a exclusividade do fenômeno humorístico. Aprendemos com Bergson (2007) que a prática mais sombria e menos admirada do risível está no cerne da vida social, pois garante que a sociedade cumpra hábitos e costumes de seu meio. O mergu-lho reiterado no caráter rebelde do humor faz com que, muitas vezes, tenham sido es-quecidos seus aspectos disciplinares. Uma longa tradição de estudos do humor segue a distinção entre o bom e o mau riso: o riso era festivo se zombava da autoridade, mas negativo se servia aos interesses de manter a ordem social. Notável na sociedade humorística é que, na atmosfera eufórica de bom humor, supostamente despretensioso, desenvoltamente positivo, há uma tendência ao apagamento das ambiguidades do discurso humorístico que dificilmente não se encon-tram nas fronteiras de ordem e caos. Nas formas positivadas e pasteurizadas, o humor foi e continua sendo utilizado para mobilizar emoções e compreensões nos meios de comunicação massivos e na esfera digital, embora nesta as facetas agressivas e até pre-conceituosas do humor estejam bastante presentes, servindo inclusive como forma de fazer política.
Os estudiosos do humor dessa coletânea se movem em direção ao seu caráter paradoxal, por vezes menos benevolente, mas, sobretudo, buscam compreender seu significado social, seus negativos, que precisam ser resgatados desse positivismo ideológi-co contemporâneo. Por considerar que o humor não é um adorno da vida social e que, para compreendê-lo, é preciso entender a seriedade da vida social, os leitores devem esperar que o riso aqui seja levado a sério.
Este livro foi materializado em meio à pandemia de covid-19 (entre os meses de novembro de 2020 e julho de 2021) num momento em que rir se tornou um ato de difícil realização. Em particular, nesses tempos, o cômico, o risível, o ridícul