A poesia de Gabriela está toda permeada pela psicanálise, o que talvez seja o motivo do convite para prefaciar seu primeiro livro. Está tudo aqui: o inconsciente, a resistência, a latência, a psicose, a suspensão das certezas, o desejo, as pulsões, a vida e a morte. Mas tudo desenhado de uma forma tão sedutora que quem ler ficará imediatamente envenenado e morrerá docemente, sem saber do quê. Foi assim, envenenada pela poesia de Cecília Meireles, que conheci a psicanálise. Em muitos momentos as palavras de Gabriela me lançaram de volta àqueles tempos, e o que me veio à cabeça foi o poema Motivo: 'Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta'. Qual é o motivo do poeta? O instante. Ele pode ser alegre ou triste, menina ou mulher, mulher ou homem. Não há limites para a escrita. Parece que Gabriela descobriu na escrita seu motivo, sua (des)razão e seu sentido. Tenho que concordar com ela de que não há salvação a não ser quando nos agarramos com dentes e 'unhas vermelhas' nas palavras. A palavra corta a pele e tenta dar sentido ao que não pode dizer nada. Convido o leitor para entrar com os dois pés nesse obscuro mundo das palavras que recobrem uma alma desnuda, deixando-se seduzir pela beleza da poesia que vem da força de um grito mudo.