Construir um livro, diz Émilie Notéris, é como edificar uma casa. Precisamos de materiais, colaboradores e, quem sabe, como alicerce, um sonho: o sonho de Notéris é o de que a crítica de arte possa evoluir para um horizonte feminista e queer. Por meio do resgate, ou – quando o resgate é impossível – da invenção dos vínculos estéticos e biográficos que unem as autoras e artistas ao seu passado de mulheres, Notéris busca lançar um novo olhar sobre a história da arte, e assim as relações de classe, raça e gênero são trazidas de volta ao centro de sua interpretação da prática artística. Uma genealogia subjetiva de artistas mulheres, do século XIX ao XX, que tenta «restaurar os laços entre as mulheres, aqueles que foram rompidos ou invisibilizados pela narrativa branca, heteronormativa e patriarcal da história da arte tal como foi escrita até agora, por exclusões, e calcada em silêncios». A casa de Notéris é uma casa nova, uma casa que não se desenvolve na vertical, mas horizontalmente, onde o peso da história escrita em nome das mulheres, mas sem elas, não atua, ou é refutado, invertido, e onde o que foi invisibilizado reaparece e o que foi calado reconquista uma voz que pode aqui, na casa de Notéris, se encontrar com outras vozes ouvidas por poucos, abrir novas forças interpretativas e construir, mais do que uma casa, uma constelação.