A correspondência entre Betty Milan (1944) e Neide Archanjo (1940-2022), durante um lapso de 10 anos, entre 1982 e 1992, marcou a vida das duas, tanto no campo pessoal quanto no profissional. Uma médica, psicanalista e escritora e a outra advogada, psicóloga e poeta, que determinou a realização pessoal de ambas. Betty, mesmo morando fora, conseguiu vir ao Brasil e Neide ir à França tantas vezes quantas foram necessárias para que se tornassem amigas inseparáveis. É o que se depreende das cartas publicadas agora pela Ibis Libris, com projeto gráfico de Luiz Stein. Trinta anos se passaram desde a última carta guardada e o frescor das ideias e a emoção ali contida continuam frescos como no momento em que foram escritas. Neide e Betty se conheceram no I Festival das Mulheres em SP, organizado por Ruth Escobar, em 1982, e continuaram a se ver, falar e escrever, trocando livros e impressões até o final da vida de Neide, em janeiro de 2022, mas, aqui, temos o embrião desse relacionamento, que poderia ter acontecido com qualquer pessoa, mas torna-se específico quando se trata exatamente dessas duas escritoras. As cartas têm o condão de nos levar ao momento de sua escrita e de perpetuar a voz, as palavras, o impulso de quem as escreveu. A permanência da palavra é o que nos torna humanos, e poder compartilhar este momento amplia ainda mais a importância do que foi vivido por estas duas mulheres.