Depois de 'Esquecer Foucault' (1984) e 'Partidos Comunistas - Paraísos artificiais da política' (1985), 'América' volta a mostrar o vigor do sociólogo francês Jean Baudrillard, dono de uma linha de pensamento influenciada fundamentalmente pelas transformações sociais, suja manifestação mais sonora é a eclosão de maio de 1968. Em 'América' (Amerique), o polêmico pensador faz dos Estados Unidos o centro de sua observações. Assumindo inteiramente seu lado de "escritor reflexivo", Baudrillard cria um livro fascinante, onde as grandes vertentes da cultura norte-americana aparecem analisadas com uma profundidade e vivacidade raras. Afirmando ser América, uma espécie de monografia imaginária, o autor realiza uma verdadeira viagem pelos Estados Unidos, onde nada escapa ao seu agudo poder de observação. Numa linguagem ágil, pontuada por descrições vivas, ele captura imagens que vão desde o sorriso, a arquitetura, a rua, a solidão, o corpo e a loucura do povo americano. Um exemplo provocador de algumas de suas reflexões é a análise da "hamburgueseria", afirmando ser ela mais cultural do que qualquer conferência, mesa redonda ou manifestação intelectual. Ao abandonar as limitações dos textos acadêmicos, optando pela via aberta e imediata, pelo poder de síntese do relato de viagem, Baudrillard redescobre a América, e provoca um escândalo ao afirmar que os Estados Unidos são a única sociedade primitiva atual, com um porvir diante de si feito de simulação, de complexidade, de tecnologia soft e de promiscuidade racial.