Há amigo mais chegado do que um irmão, esse versículo do livro de Provérbios (18:24) lembra como o afeto escolhido pela amizade pode ser mais profundo do que o afeto herdado pelos vínculos de sangue. Esse foi o caso da amizade entre Davi e Jónatas, relatado em I Samuel (18:1-4). Quando o pai de Jónatas, o rei Saul, quis matar Davi, Jónatas rompeu com o pai e não com o amigo. Esse relato bíblico mostra como essa amizade - um afeto e vínculo escolhido pelo indivíduo - permitiu a ruptura com os vínculos herdados, seja pela família, seja pela tradição que dava base ao poder do rei. A amizade foi aí um instrumento usado por Deus para realizar seu plano. Em sua pesquisa, Alexander vai mostrar como no discurso evangélico contemporâneo a amizade nem sempre é percebida de forma positiva. Pelo contrário, a amizade pode ser vista frequentemente como ameaça à fé.
Amigos podem levar uns aos outros a se afastarem ou aproximarem de uma fé. Um indivíduo pode ter seus melhores amigos entre os membros de sua igreja estimulando o compromisso com ela, mas a dúvida ou desvio de um pode abalar a fé e a prática do resto do grupo. A força da amizade é muito clara para os líderes evangélicos,
que procuram unir sua rede de fiéis entre amigos que passam a se considerar irmãos na fé; as igrejas vão além das redes de parentesco e precisam assim construir uma comunidade de amigos. Se a amizade pode ser vista como aliada da religião quando amigos são do mesmo grupo de fé, também pode ser vista com suspeição se os amigos forem de fora desse grupo.