Tudo começa por acaso. Um pneu furado, visita despretensiosa ao cemitério da pequena cidade, encontro fortuito, uma curiosidade inerente ao viajante e contato transbordando em empatia. Tudo começa sem parar, mas com alguns tentando tudo parar, e segue assim até certo ponto, onde parece haver compreensão completa. O que de início sugere unicamente romance policial, na sequência dos acontecimentos estendendo-se por várias décadas, ao redor e em sequência ao crime desdobram-se vertentes paralelas, aspectos de muitas outras pessoas, próximas e distantes da jovem de tão curta vida. O Autor utiliza descrições objetivas, informações históricas sobre fatos diversos, referência a documentos, mas o método principal do texto funda-se em exposição das experiências vividas por algumas das personagens. Cada uma destas figuras fala vivamente, trazendo à tona perspectivas particulares, retrato de pensamentos, sentimentos, traços de personalidade, projetos de vida e a cultura predominante à época do crime. Daí nos defrontarmos com muito da variedade humana: da bondade à maldade, do altruísmo à perversidade sistemática, da fé ao desespero, da paixão ao ódio, da coragem à tibieza, da solidariedade à traição premeditada, da inocência à manipulação, e corrupção institucional. Sem muita pretensão, mas com vigor, quase sendo um libelo, no pano de fundo deste livro denso se leem denúncias de sistema insidioso e, por vezes, sutil regulação e supressão da individualidade e liberdade de muitos. Ao que parece, na essência da vida, amor e morte correm paralelamente.