'A Filosofia tem um método? (...) A pergunta pelo método da Filosofia pressupõe, certamente, uma ideia determinada acerca do que seja a Filosofia, e já isso poderia parecer excessivamente pretensioso e controverso. No entanto, acredito que se podem nomear dois aspectos que, desde Platão e Sócrates, têm sido amplamente constitutivos da Filosofia e da sua diferenciação em relação às ciências, apesar de que nunca exclusivamente. Em primeiro lugar, a Filosofia sempre teve a ver com a clarificação de conceitos. Como exemplos clássicos posso remeter aos diálogos platônicos, à Metafísica de Aristóteles e à Lógica de Hegel. Diferentemente das ciências, que estão orientadas para enunciados generalizados, essas clarificações conceituais não possuem um caráter meramente secundário e preparatório. Em segundo lugar, a Filosofia sempre teve a ver com o 'todo', com a totalidade; não com a totalidade do ente ou dos objetos, mas com o todo da nossa compreensão” (Ernst Tugendhat. Reflexões sobre o método da Filosofia do ponto de vista analítico). Joice Beatriz da Costa é uma professora que estudou durante vários anos o pensamento de Tugendhat e frequentou seus cursos na PUCRS. A partir de sua experiência com as questões do significado, a autora foi desenvolvendo um trabalho interpretativo do pensamento central da semântica formal de Tugendhat. Por um lado, ela integrou o estudo do filósofo no horizonte das discussões contemporâneas e, por outro, conseguiu destacar a especificidade de seu modo de recepção dos clássicos do pensamento continental e anglo-saxônico. Este é certamente o mérito do livro que torna possível o acesso a uma visão das questões centrais do filósofo. Em outras palavras, o grande mérito do trabalho é expor a amplitude das concepções filosóficas de Tugendhat e, ao mesmo tempo, mostrar a sua vizinhança com determinadas questões de Martin Heidegger, para as quais o autor trouxe maior clareza analítica.