Este belíssimo romance conta a história de quatro personagens marcantes que vivem na Cabul do ano 2000, quando os talebans imprimem ao Afeganistão um regime atroz: Mohsen, um intelectual, descendente de prósperos comerciantes que o conflito levou à ruína; Zunaira, sua mulher, outrora uma brilhante advogada, condenada à vida doméstica e a esconder sua beleza atrás dos véus; Atiq, um carcereiro, que não suporta mais viver nas ante-câmaras da morte, enquanto tem em casa, sua própria mulher, Mussarat, sofrendo de doença incurável. Um gesto insensato de Mohsen, envolvido pela histeria da multidão no apedrejamento de uma adúltera, joga os personagens em uma tragédia maior e expõe o universo de contradições vividas em um mundo de guerra político-religiosa. Raramente um escritor apresentou com tanta clareza e lucidez a complexidade de comportamentos e de situações que permeiam as sociedades muçulmanas, fendidas entre o feudalismo e a modernidade. Em uma soberba homenagem à mulher, Khadra revela angústias, expõe faces e dramas obrigados a se ocultar atrás das burcas, que condenam as mulheres a viverem como "nuvens de andorinhas (...), azuis ou amareladas, por vezes descoloridas, em atraso de várias estações, e que emitem um som triste quando passam perto dos homens". Revelado ao público brasileiro com 'O atentado' (Sá Editora, 2006), o escritor argelino de língua francesa Yasmina Khadra já está traduzido em vinte e dois países. Depois deste 'As andorinhas de Cabul', sobre o Afeganistão, publicado originalmente na França em 2002, veio 'O atentado', dedicado ao conflito árabe-israelense; teremos ainda a publicação este ano de 'As sirenes de Bagdá', enfocando a guerra do Iraque, fechando-se assim a trilogia que o autor consagrou ao"diálogo de surdos" que se trava hoje entre o Oriente e o Ocidente.