Quando em 25 de abril de 1974 eclodiu em Portugal a revolta militar que ficou conhecida como a “Revolução dos Cravos”, a luta pela independência de Angola já perdurava por longos e sofridos 14 anos.
O clima político que logo se instalou em Portugal acabou levando o Movimento das Forças Armadas (MFA) a acelerar o processo de independência das então Províncias Ultramarinas, sendo que Angola se apresentava como o caso mais complexo e polêmico, já que estavam presentes no cenário político local três Movimentos de Libertação: MPLA, UNITA e FNLA.
Das negociações que se seguiram resultou o acordo do Alvor, assinado em 15 de janeiro de 1975, no qual Portugal reconhecia o direito à independência de Angola e, como únicos e legítimos representantes do povo angolano, o MPLA, a UNITA e a FNLA. O acordo previa ainda o estabelecimento de um Governo de transição, cessar-fogo geral e que Portugal se obrigaria a transferir progressivamente, até a data da independência, todos os poderes que detinha e exercia em Angola.
Infelizmente, com exceção da saída de cena de Portugal, que alguns observadores consideram ter-se omitido, seja por opção política, impotência ou desânimo, o acordo do Alvor foi, em parte, ignorado e assistiu-se, isso sim, a uma descarada e despudorada intromissão militar de potências estrangeiras, o que conspurcou o processo e levou Angola a uma sangrenta guerra civil que perdurou por muitos anos após a independência e que, para além do sofrimento e mortes, acabou esfacelando a economia angolana.
Por que aconteceu esta guerra civil? Muitas explicações estão disponíveis de acordo com a inspiração ideológica de cada um, mas, conforme cito no capítulo 18, subsistiu em mim a sensação de que estaríamos perante o “destruir para depois construir, uma forma esquizofrênica de depuração do poder para se chegar a uma independência verdadeira”.