Em toda a literatura os anjos servem como metáfora da morte. Por quê? Ser caído faz parte da condição humana, explica Harold Bloom, autor de Anjos Caídos. Daí vem o reconhecimento de nossa própria mortalidade. Bloom oferece um pouco de conforto, com a consciência recíproca de que os anjos também representam o amor e a celebração das possibilidades humanas. A fascinação ocidental (em especial dos norte-americanos) pela figura dos anjos nas últimas duas décadas foi o que motivou o pensador Harold Bloom a escrever este curto ensaio. Demonstrando visível espanto diante da quantidade de livros e filmes em torno do universo angelical nesse período, Bloom inicia uma discussão profunda e contundente sobre o tema. Segundo o autor, existem três categorias simbólicas das religiões do Ocidente que se misturam muitas vezes, sem critérios de definição: os demônios, os diabos e os anjos caídos. Demônios e diabos são regularmente relacionados com o mal no imaginário popular, e os anjos caídos, apesar de caídos, continuam sendo anjos - o que, de certa forma, gera um certo glamour e uma aura sofisticada para esta última denominação. Para justificar essas alegações, Harold Bloom se baseia em fontes igualmente ricas e heterogêneas, como os Testamentos bíblicos, as obras de Shakespeare, o poema Paraíso Perdido, de Milton, a peça Angels in America, de Tony Kushner e até mesmo textos zoroástricos. Unindo tantas referências ele traça uma genealogia dos anjos, chegando à conclusão de que a humanidade erra quando tenta transformá-los em seres superiores, transcendentes, diferentes de nós. Esquecemos que eles "são algo que já foi nosso em essência e no qual podemos nos transformar novamente". A partir dessa aproximação entre a figura humana e a angelical, Bloom toca em um ponto crucial de sua obra: a consciência dos homens sobre sua mortalidade, isto é, sobre sua finitude. Logo, se somos semelhantes aos anjos e conscientes de nossa morte, nada também nos diferencia dos anjos caídos. Ser caído faz parte da condição humana, explica o autor: daí vem o reconhecimento de nossa própria mortalidade. Em compensação, Bloom nos oferece um pouco de conforto, com a consciência recíproca de que os anjos também representam o amor e a celebração das possibilidades humanas. Somos todos anjos caídos.