Romance breve ou longo poema em prosa? Não se sabe. Construído com frases curtas, precisas, austeras, de seco lirismo, Annam, de qualquer forma, é belíssimo. Economizando palavras, conta uma aventura humana profunda. Só o essencial aparece, a imaginação do leitor faz o resto. No fim do século XVIII, uma missão de religiosos franceses embarca para evangelizar o Vietnã. Contorna lentamente a África, atravessa o Índico, enfrenta perigos, um ano depois se instala. Ocorre a Revolução, morre o rei, e a França os esquece. lncendeiam-se os arquivos da abadia de Saint-Martin-d’Aubray, e a Igreja os esquece. As notícias escasseiam, até cessar o contato. Não podem voltar. Só lhes resta Deus. Mas onde Ele está? Mergulhados numa nova geografia e numa nova história, esquecidos por todos, impotentes para converter um povo camponês que não conheciam, aos poucos os missionários se esquecem de si mesmos, nem mais religiosos, nem leigos. Trabalham nos arrozais, seguindo o ritmo das estações, da chuva e do sol. Os que caminham para o interior, para o norte, para mais longe, instalam-se na vila de Annam. Já sem a arrogância do colonizador, aprendem. E descobrem sua própria humanidade.Este romance da solidão e do encontro é o relato de uma história real. "Depois de três meses no Vietnã", diz o autor, "me impregnei de sua atmosfera, suas cores, seus odores. Tive muitos contatos silenciosos, sem diálogos, mas fortes. Tentei, nessas condições, escutar minha própria intimidade, tanto quanto possível. Um vietnamita me contou a história desses missionários, e eu ?vi’ o romance. Compreendi que quando as cartas e arquivos se perdem, quando todos os vestígios desaparecem, restam os gestos.