Numa época em que o design gráfico estava sendo construído institucionalmente no Brasil, com um discurso pontuado pelos preceitos funcionalistas e pela assepsia ortogonal, uma explosão de experimentações e soluções inesperadas moldava o rosto tropicalista na capa dos LPs. Tendo à frente a exuberância de Rogério Duarte, profissionais como Luciano Figueiredo, Oscar Ramos e Lincon exploraram as potencialidades deste extraordinário veículo, num caldeirão de influências que tentava dar conta da transgressão da contracultura. Descortinada a mina de recursos impactantes que proporcionava o privilegiado (e, hoje, saudoso) espaço das capas, Aldo Luiz, Cafi e vários outros designers - que sequer se creditavam com este termo - levaram à frente uma das produções gráficas mais ricas já feitas no país. Em "Anos Fatais", Jorge Caê Rodrigues acompanha este processo efervescente, articulando-o ao contexto cultural e político da ditadura militar, da guerrilha e do desbunde. Anos fatais mostra que, diferentemente do que os currículos das disciplinas de História do Design muitas vezes fazem crer, dois ou três pioneiros não bastam para resumir a prática nem o discurso do design gráfico brasileiro.