'Meus contos esquecidos' joga luz sobre histórias maravilhosas, exemplos perfeitos do talento e da sensibilidade de Lygia Fagundes Telles, escritora cujos personagens são seres humanos comuns, mas cujas almas são esquadrinhadas com beleza, profundidade e uma impressionante economia de palavras. Em 'A chave', por exemplo, ela sonda as ironias que o destino plantou na vida de Tomás, homem de 49 anos casado com uma moça de 18. Ele perdera o interessa por sua primeira mulher, Francisca, porque ela sequer tentava esconder o avanço da velhice. E agora que Tomás tem uma esposa jovem de fato, ele sente falta do tempo em que era casado com alguém que não o obrigava a fingir ser mais novo do realmente era. Há os que são velhos em qualquer idade. É ocaso de Maria Emília, do conto Senhor diretor, mulher que escreve sobre tudo que considera errado no mundo, em vez de se preocupar com seus próprios problemas, que são muitos, a ponto de transparecerem mesmo contra sua vontade. Ela reclama de tudo:das mulheres que fazem operações plásticas, do tom imperativo da publicidade, do cinema nacional, do despudor das prostitutas, das fofocas estampadas nas capas das revistas... Só não reclama da evidente falta de amor em sua vida. Sua sorte, no entanto, ainda é melhor que a da narradora do conto 'A confissão de Leontina', mulher torturada para confessar um assassinato que ela realmente cometeu, mas que talvez poucas pessoas teriam conseguido evitar se tivessem passado por tudo o que ela passou.