Fruto de um trabalho de pesquisa que coincide, desde sempre, com a trajetória política e intelectual do biógrafo, Antonio Gramsci, o homem filósofo, de Gianni Fresu, revela a estrutura de profunda continuidade na produção teórica do pensador sardo. Sem menosprezar a coexistência, em Gramsci, de diferentes necessidades e perspectivas, contrapõe-se às supostas divisões ideológicas entre um antes e um depois, um “Gramsci político” e um “homem de cultura”.
A vida do intelectual sardo é marcada pelo drama da Primeira Guerra Mundial, primeiro conflito de massas em que as grandes descobertas científicas das décadas anteriores foram aplicadas em larga escala e onde milhões de camponeses e operários foram enviados ao massacre. Em toda a sua produção teórica, essa relação dualista, que exemplifica com perfeição o uso instrumental dos “simples” pelas classes dominantes, ultrapassa o contexto bélico das trincheiras, encontrando plena expressão nas relações fundamentais da moderna sociedade capitalista. Em contraste com essa ideia de hierarquia social, considerada natural e imutável, Gramsci afirma constantemente a necessidade de se superar a fratura historicamente determinada entre as funções intelectuais e manuais. Não é a atividade profissional específica (material ou espiritual) que determina a essência da natureza humana, para Gramsci “todo homem é um filósofo”.
Lançada originalmente em 2019 na Itália, onde foi muito bem recebida, a biografia intelectual de Antonio Gramsci é uma excelente introdução ao pensamento gramsciano, para quem ainda não o conhece, uma ótima oportunidade de organizar o conhecimento sobre o autor, para quem já teve algum contato com a obra de Gramsci, e, sem dúvida, uma referência importante para os estudiosos. Da edição brasileira, acompanhada de perto por Fresu – que, embora seja sardo como Gramsci, leciona na Universidade Federal de Uberlândia (MG) –, constam trechos e notas do autor que não se encontram na italiana.