Talvez aqui valha a pena recordar a distinção entre o conceito e o paradigma de Antropoceno. A controvérsia sobre o conceito continua viva. Já o paradigma parece ter-se tornado consensual nas últimas décadas se se tomar a noção de paradigma como um domínio de estudos que constitui uma comunidade de saber. Recorda-se desde que T. S. Kuhn criou a noção que alguns filósofos – como sempre – ficaram escandalizados porque ela não é unívoca, ela compreende antes uma constelação de sentidos cujas relações devem ser estendidas como uma “semelhança de família”. Mas como em todas as famílias, também nesta estamos inclinados a dar preferência a um sentido. Creio que a propósito deste paradigma vale a pena insistir na ideia de uma promessa de felicidade; ou seja, se há um conjunto de investigadores tão dispares – esta coletânea é um bom exemplo – que se reúnem, partilham saberes e aprofundam um domínio de investigação novo, é justamente porque acreditam que os temas aparentemente tão distantes ganham uma nova inteligibilidade se pensados a partir desse conceito. Veja bem. Leia o índice do livro. Vai encontrar autores de várias nacionalidades, que abordam temas como: pode um rio morrer, as bombardeiras no Brasil, as práticas dietéticas, Hatsume Miku e as ovelhas elétricas, a pandemia no Capitaloceno, a natureza e o anti-dualismo, os monólitos neoliberais. Mas se depois de ter lido estes ensaios começar a pensar em fugir da Terra, então pode ler o ensaio sobre a exploração espacial.l