No livro Antropologia dos silêncios: disputas em torno do controle reprodutivo, o debate reflete sobre os impactos e as consequências de uma ação judicial e um Termo de Cooperação empreendidos entre o Ministério Público (MP) do estado do Rio Grande do Sul e uma empresa farmacêutica, cuja decisão foi utilizar/testar um contraceptivo hormonal em jovens abrigadas na cidade de Porto Alegre. A partir de então, Laura Xavier desenvolve sua análise documental e bibliográfica com muita perspicácia e visão crítica, explorando importantes eixos temáticos que englobam a construção social do corpo feminino; a saúde reprodutiva e a intervenção do saber médico; e a atuação de instâncias públicas (Estado), privadas e de movimentos sociais como sistemas de poder em corpos subalternizados. Em seu encontro com a pesquisa, a autora ainda revela uma faceta interessante de sua formação pessoal, que a auxilia no processo investigativo, qual seja, a importante relação com as mulheres e seus ensinamentos ao longo da vida. Com sua avó, Joana D’Arc, aprendeu a cuidar do corpo e a dizer não. Com sua mãe, sentiu o respeito e a compreensão ampliada sobre a maternidade (ou a ausência dela). Com sua irmã e outras tantas mulheres, compartilhou forças para seguir em frente na universidade e no processo de investigação da pesquisa. E não menos importantes são suas vivências declaradas enquanto mulher lésbica, não branca, latino-americana, sudestina e de classe média.