Os poemas de Ao norte, ao chão revelam uma trama em sentido ambivalente: ela se manifesta no verso, “esta linha/ em que não vamos ao fim/ para que se possa respirar/ e haja ainda o que seguir”, conforme “Percurso”, um dos pontos altos deste livro de Laís Ferreira; a trama também se faz presente na tendência à narratividade, que é contida, em ritmo cadenciado, às vezes alcançando um suave prosaísmo. De qualquer modo, sua poesia ressalta na oscilação de experiências em torno do amor, que se apresenta “como as redes, as iscas, as buscas/ próximas ao mar”. Outro sinal dessas buscas se torna evidente na recorrência com que cartas são evocadas e especuladas, funcionando como um símile da intensidade dos sentimentos. O amor também se mostra, indiretamente, no seu trabalho em relação às imagens, que se encadeiam, reproduzindo a dinâmica da rede. Em Ao norte, ao chão, as imagens se desdobram em outras, o que garante uma série de emoções a um mesmo símbolo, seja ele o “mar”, seja ele o “bolso” – duas constantes na poesia de Laís Ferreira. Contudo, o verso “é próximo ao chão/ embora se escalone ao céu”, sugerindo uma poética de contrastes. Eles estão presentes em referências a patologias contemporâneas e à perspectiva trágica de certos poemas, como “Os sem nomes do amor”: “É triste, mas não somos a terra:/ não retemos poeira, grão e cal./ O que cai em nós não germina,/ não há morte precursora da vida.// No entanto, sob as unhas descansam/ um verso por quem se foi, a esperança.” É uma obra que, nos contrastes, desvela que tudo está tão próximo e tão distante.