Fernando Dusi Rocha é um dos muitos autores radicados em Brasília originários de outras cidades, de distintos estados. A literatura que fazem é diversificada. As histórias que contam se situam frequentemente no Plano Piloto, nas cidades-satélites ou nos seus lugares de origem. Neste caso, em Minas Gerais. O enredo deste segundo romance do autor, também poeta, é sobre três marias, irmãs que recebem instruções moralísticas do pai boticário, envoltas na religiosidade cristã e judaica discutida ao longo da narrativa. A protagonista é Celestina, narradora de um capítulo. “Abismou-se”, diz o narrador onisciente, “na aventura da carne, a caralho cheio”, seduzindo o melhor amigo do marido infiel. Quando duplamente enviuvada, “folgouse em folganças, perdidosa na fome e sede de foder”. Na sua paixão outonal por um pesquisador das partituras deixadas pelo pai boticário, a segunda maria, Melibea, solteirona virgem de 50 anos, “fodeu tanto que enroqueceuse de gemidos”. A mais versada das irmãs nas instruções moralísticas do boticário é Areúsa, personagem menor da história, que se passa no emblemático ano de 1945 com ecos ibéricos e medievais. A linguagem revela a pesquisa nas fontes galaico-portuguesas do autor, que também demonstra seu conhecimento de música através das partituras do boticário. Fernando Dusi Rocha ousou optar por um caminho pouco trilhado pela literatura contemporânea, que no Brasil, pelo menos desde o modernismo, preza a linguagem direta e coloquial. Aqui está entremeada de vocabulário arcaico, de recurso ao galego ou ao galaico-português e ao latim. Não por acaso a tese de doutorado do autor foi sobre o Padre Vieira.