O livro O Aquário e o Samurai é uma leitura de Michel Foucault que pretende demarcar-se do tom reverencial com que se costuma recepcionar sua obra entre nós. Trata-se de um livro até certo ponto pessoal, fruto de um contato duradouro do autor com a obra de Michel Foucault como pesquisador na área dos direitos humanos e professor na área da sociologia do direito. Orientando por vários anos a produção de teses e dissertações, o autor defrontou-se frequentemente com uma leitura acrítica do seu livro mais conhecido, Vigiar e Punir, obra que, apesar de incontornável, não pode, a seu ver, ser recepcionada entre nós sem muitas cautelas, por ser duvidoso que se possa considerar o Brasil uma sociedade disciplinar no sentido foucaultiano do termo. Além disso, a obra de Michel Foucault – sobretudo aquela da sua fase genealógica – constitui uma poderosa desmontagem do “humanismo penal” saído do Iluminismo. Em que pese isso, Michel Foucault, enquanto indivíduo, era um arrojado militante contra torturas, detenções arbitrárias, pena de morte etc. Em suma, um incansável humanista de combate. Há, assim, uma aparente aporia entre o pensador e sua obra, uma espécie de disjunção entre sujeito empírico e sujeito epistemológico. Como encarar as questões que essa disjunção coloca? O Aquário e o Samurai tem essa pretensão. Partindo de um recorte do corpus foucaultiano que privilegia sua fase genealógica, Luciano Oliveira traz para o debate autores não reverenciais da obra de Michel Foucault, desde os brasileiros José Guilherme Merquior e Sergio Paulo Rouanet, até autores estrangeiros desconhecidos ou simplesmente ignorados pela produção foucaultiana no Brasil, como Luc Ferry e Alain Renaut (França), Peter Gay (Inglaterra), James Miller (Estados Unidos) etc. Luciano Oliveira define seu livro como “uma leitura de Michel Foucault em que rivalizam a admiração e o olhar crítico”. E comenta com uma pitada de bom humor: “acho que Foucault teria gostado!”.