O marroquino Abdellah Taïa foi o primeiro escritor árabe a se assumir homossexual publicamente, em 2006. Para muitos homossexuais vivendo no mundo árabe sob opressão político-religiosa, seu rosto é o único com o qual se identificar, a única inspiração visível. Em seus livros, Abdellah Taïa exibe a dignidade do homossexual árabe. Aquele que é digno de ser amado é seu primeiro romance publicado no Brasil. O livro toma a forma de quatro cartas. Nas duas primeiras, o personagem principal, Ahmed, homossexual marroquino de 40 anos residente em Paris, escreve à mãe, Malika, morta faz cinco anos, e ao amante francês, Emmanuel, que conheceu no Marrocos aos 17 anos e com quem partiu para a França. As outras duas cartas são dirigidas a Ahmed por Vincent, um amante do passado, e Lahbib, um amigo de infância. Merecidamente,como autor, ele se tornou um ícone de resistência, e sua obra está entre as mais relevantes no que se produz na literatura atualmente. Essa correspondência se estende por vinte e cinco anos, de 1990 a 2015. Nas cartas, Ahmed questiona e é questionado sobre sua homossexualidade, sua relação com a mãe, seus vínculos com o Marrocos e sua identidade como árabe na sociedade francesa. Ao partir para a França com Emmanuel e adotar a língua e o modo de vida do colonizador, Ahmed ganhou liberdade para expressar sua sexualidade, mas perdeu suas raízes e sua identidade. Aquele que é digno de ser amado é um livro que fala de vários temas: da relação difícil entre mãe e filho, da dor da homossexualidade, do exílio no estrangeiro, da ilusão de emancipação e da submissão cultural. No entanto, sobretudo, é um livro que fala do colonialismo e das relações de poder, e de como eles se refletem na vida afetiva de um homossexual árabe de 40 anos radicado nos dias de hoje em Paris.