É bem possível que depois de ler este livro alguém passe a observar objetos de porcelana com outros olhos. Janet Gleeson mostra como essa invenção chinesa encheu de cobiça os reis europeus do século XVIII, que se desviaram um pouco da busca pela Pedra Filosofal e de seu poder de transformar qualquer metal em ouro para desvendar a fórmula (ou arcano) da porcelana, um segredo guardado a sete chaves no longínquo Extremo Oriente. Escrito como se fosse uma emocionante história de aventura, O arcano começa com a biografia de Johann Frederick Böttger, o químico alemão que teve a primazia de encontrar a fórmula da porcelana no continente europeu, em 1708. Antes disso, no entanto, sua vida foi marcada pela ansiedade de uma possível condenação à morte, já que passou metade de seus 37 anos de vida preso. Seu "crime", na verdade, foi uma pequena trapaça, muito comum entre os alquimistas na época. Após uma demonstração de que seria capaz de transformar metais comuns em ouro, ele sutilmente jogou moedas de ouro no fogo e deu a impressão aos assistentes de ter encontrado a Pedra Filosofal. Logo sua fama se espalhou e Böttger passou a ser perseguido pelo rei Frederico I, da Prússia, para que produzisse muito ouro para o Reino. Foi parar na Saxônia, onde caiu nas garras de Augusto II, um monarca que teve, na sua longa folha corrida de bebedeiras e aventuras amorosas, uma relação incestuosa com a própria filha. Com o tempo, os monarcas europeus perderam o interesse em buscar a Pedra Filosofale a grande questão passou a ser mesmo a procura pela fórmula da porcelana, o "ouro em forma de argila". Quando começou a ser levada por mercadores portugueses da China para a Europa, logo encantou os burgueses e as ricas cortes do continente, principalmente a da Saxônia. Conseguir a fórmula e produzir porcelana por conta própria passou a ser uma obsessão e gerou, segundo mostra o livro, atividades de espionagem, comparáveis ao período da Guerra Fria.