Este Área reservada para pichadores amadores é, sim, o livro de estreia de Maiara Líbano, só que não estamos lidando com uma autora iniciante. Conheci a Maiara como integrante ativa do coletivo Clube da Leitura RJ, um grupo de escritores talentosos que há anos se reúne quinzenalmente para escrever, apresentar seus contos e discuti-los em conjunto. Portanto preciso dizer que aguardava com alguma ansiedade por esta publicação, e digo também que a espera valeu muito a pena. Os quinze contos que compõem o trabalho vão do humor (logo de cara temos o hilário “O fantasma de Deodato”, que me fez ter pena de bandido, veja só) ao drama (o belo e chocante “De volta para casa” encerra o volume), passando pelo desconforto crescente partilhado com o leitor de “Vista Chinesa”. E pelo mistério e o encantamento de “O concerto de Mateus Aleluia no Rio de Janeiro”. E pelo contraste e a tristeza de “Inocência”. E pela esperteza e a sagacidade de “Em El Salvador, o negócio dos caixões é mais seguro”. E tem mais, muito mais. A sensibilidade da autora nos conduz com mãos seguras por uma variedade absurda de emoções. Seus ótimos contos reunidos constituem um tipo muito especial de cartografia de cidades como o Rio de Janeiro ou Jucuapa, uma cartografia que não se concentra em detalhar os ambientes conhecidos dos cartões-postais, mas nas pessoas, nos afetos, nas relações. O olhar atento de Maiara Líbano enxerga o que nós muitas vezes não podemos enxergar, seus personagens estão no limite, há sempre a sensação de que estão prestes a perder o controle. Usando com habilidade as ferramentas próprias e específicas da literatura, explorando a força das narrativas ficcionais, Maiara nos oferece a oportunidade de ver e perceber o outro e assim podermos ver e perceber o que tem dentro de nós mesmos.
E por isso só podemos agradecer. [Carlos Eduardo Pereira]