Arena de los dias / Areia dos dias, escrito em espanhol e português por Esther Blanco, é um livro de memória e esquecimento, de viagens e visitas a uma casa que todos nós habitamos. Com linguagem simples, formas curtas, versos livres, vemos desfilar subjetividades peregrinas nas quais nós nos reconhecemos. A velha sentada num banco, a jovem que sai para encharcar-se, o quadro de Hopper, a cadela na praia, o gato cor de canela, a vila natal, o amor segundo e por Leonard Cohen, as cidades em que deambula ou vê da janela do trem e do avião, as estações do tempo e do espaço, dos organismos minúsculos às paisagens mais vastas, pulsam nas páginas deste livro. Eis o mundo do ponto de vista de quem se sabe sempre de passagem. Entre português e espanhol, na terceira margem, a língua do “abismo impossível de não pertencer a lugar nenhum”, da “areia do tempo que cai, irremediavelmente.” Temos, enfim, um livro de poeta, em que se exercita o olhar lírico, o estilo da recordação (para tomar emprestadas as palavras de Emil Staiger, em seu “Conceitos Fundamentais da Poética”). Recordação que passa pela invenção e pela imersão na linguagem. “Areia dos Dias” nos adverte: recordar é transver.