A análise platônica das formas que revestem o discurso político constitui um momento fundador da tradição crítica do pensamento ocidental sobre o processo sócio- histórico, não só das funções atuantes na pólis grega como, e intrinsecamente, no Estado como tal, inclusive o vigente em nossos dias. Focalizando um texto constituinte de toda essa reflexão e debate, a República, e sondando-o em questões fundamentais, ainda que nem sempre ventiladas na literatura, Paulo Butti de Lima desenvolve uma autêntica Arqueologia da Política, título deste livro que a Perspectiva apresenta ao nosso público. O problema central da não unidade e dos limites do saber a que o observador, o legislador e o governante recorrem para chegar aos seus pontos de vista ideológicos ou pragmáticos são examinados inclusive sob o ângulo da natureza do saber, no confronto das teses e das opções que alimentam a dinâmica da vida estatal. Aí se inclui igualmente o papel não só da ética como da estética, em termos de poesia, ou música, em um projeto pedagógico platônico que deveria constituir parte integrante da ´prosa´ de uma cidade, não apenas reduzida aos discursos e lutas partidárias e judiciárias, mas empenhada na busca de um novo ´discurso´ capaz de expressar e falar à alma e ao caráter dos cidadãos, elevando-os às alturas de possíveis ideais. J. Guinsburg