Em novembro de 1955, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) inaugura a exposição Latin American Architecture since 1945. Organizada pelo historiador da arquitetura Henry Russell-Hitchcock, a mostra buscou apresentar ao público a pujante atividade construtiva do subcontinente nos últimos dez anos (1945-1955). Como produto imediato, o MoMA publica um livro-catálogo homônimo, assinado pelo curador da mostra. O interesse primeiro do livro Arquitetura moderna latino-americana: uma ideia construída a partir de Latin American Architecture since 1945 [1955] é precisamente o de revisitar os processos de elaboração da trama discursiva consolidada na exposição em tela, reconhecendo-a como fruto de um complexo campo de forças heterogêneo em que operam múltiplos interesses. Exposição e publicação serão então tomadas como produtos historiográficos culturalmente construídos no cruzamento de sentidos circunscritos, de um lado, ao campo disciplinar da arquitetura, no que tange à revisão que o modernismo sofrerá no segundo pós-guerra, e, de outro, ao âmbito dos embates ideológicos prementes no alvorecer da Guerra Fria. Recusando a compreensão do discurso consolidado em Latin American Architecture since 1945 como simples projeção do “outro” a partir do “centro” — mas sem com isso negar estruturas de poder incidentes em sua tessitura —, este livro ilumina também a ação de sujeitos latino-americanos e dinâmicas endógenas que incidem necessariamente na produção da narrativa. Ao olhar para a exposição de 1955 em perspectiva histórica, a obra procura debater a produção de um imaginário particular de “arquitetura moderna latino-americana” e, com isso, introduzir explicações renovadas e mais complexas à historiografia canônica da arquitetura moderna na América Latina.