Com você aprendemos, no próprio corpo, que o trabalho do pensamento é processo de subjetivação, é transmutação existencial, é resposta que se cria para afetos que buscam seu dizer. Daí a vitalidade de tuas ideias; a irreverência e a alegria que acompanham cada uma de tuas palavras. Daí também tuas precisas e belas transcriações de um Deleuze-e-Guattari francês na língua brasileira – belas e precisas porque trazem a pulsação do texto e sua potência polinizadora. Não por acaso, foi-te atribuída a função de revisor técnico de todas as publicações desses autores no país. Aliás, tampouco é por acaso que atribuí a você uma outra função, ao longo dos quinze anos em que trabalhamos juntos no Núcleo de Estudo da Subjetividade na PUC: a função de 'pronto socorro filosófico', ao qual todos poderíamos recorrer cada vez que tivéssemos a urgência de afinar a escuta sobre um determinado conceito, para nos curarmos de algum impasse vital. Você nos atendia prontamente, com algumas frases, tantas quantas necessárias, e um mapa da mina com os números das páginas e até das linhas onde os antídotos poderiam ser encontrados. Daí, enfim, as irreversíveis marcas em nossos corpos dos conceitos que nos vêm de você, rastros de um generoso processo de iniciação em que nos é dado saber que pensar é uma responsabilidade ética. Poder contar com mais uma experiência desta filosofia prática, agora sob a forma de livro, é um raro privilégio. Agradeço-te por mim e por todos os seus atuais e futuros leitores. Contra capa de Suely Rolnik