Por que a arte? Esta é uma pergunta a ser sempre recolocada. Porque se, como afirma Alfred Whitehead, a “Filosofia Ocidental não passa de uma sucessão de notas de rodapé da obra de Platão”, há muitos séculos está aceita a tese de que a arte deve se submeter aos princípios racionais da cidade filosófica. Deste modo, muito embora não tenhamos construído a cidade ética que justificaria a expulsão dos poetas, sabemos que o valor relativo ou secundário da arte em nossa cultura tem em uma tradição de pensamento autoritária e conservadora a sua origem e razão de ser.
Mas não basta questionar a arte apenas do ponto de vista do intelectual. Pois para que a discussão de uma estética filosófica faça sentido, agora e no futuro, é essencial que haja arte. Esta afirmação inclui, claro, algumas perguntas que pertencem ao campo teórico, isto é: há arte, se essa arte é elitizada? Há arte, na medida em que nos aprofundamos cada vez mais em um modo de vida técnico, no sentido que Heidegger dá a esta palavra? Há arte, se a arte é majoritariamente divertimento, quando a cultura de massas já absorveu praticamente tudo? Mas este livro, especificamente, não trata delas, ou ao menos, não diretamente. Ele trata daquilo que as perguntas, sozinhas, não podem fazer, que é a prática efetiva de promover o acesso à arte, para que então estas perguntas possam fazer sentido para uma população maior do que um grupo com um interesse teórico específico.
Por isso, convidamos as pessoas que promovem o acesso efetivo à arte, e em especial, aquelas que o fazem dentro da escola pública de ensino fundamental e médio. Não queremos, contudo, defender com isto a postura de que a arte é uma “ferramenta” pedagógica. Porque, mais uma vez, justificaríamos a presença da arte em um local onde não deveria estar – porque é o local do conhecimento e da ciência – com o álibi de que só o fazemos para o que o aluno aprenda algo. Pelo contrário, queremos salientar que estas pessoas, ao fazerem arte, ainda que tenham a inten