Amalfitano, professor universitário de literatura latino-americana que tem uma presença marcante no romance 2666, é o protagonista de As agruras do verdadeiro tira, obra póstuma do autor chileno Roberto Bolaño. Aos cinquenta anos, ele se envolve com um aluno, o talentoso poeta marginal Padilla, e descobre-se homossexual. A relação acaba se tornando um escândalo na universidade de Barcelona onde leciona, e o professor é forçado a se transferir para a única faculdade que o aceita, na violenta cidade de Santa Teresa, no México. Nesse novo ambiente, por vezes estranho e sinistro, Amalfitano passa a refletir sobre sua homossexualidade tardia, enquanto se relaciona com outro homem, o falsificador de arte Castillo.
Roberto Bolaño é conhecido por situar suas tramas dentro de um mesmo universo, onde o personagem de um conto ou poema pode aparecer em outro romance, construindo uma complexa rede de relações. As agruras do verdadeiro tira é exemplar neste sentido: expõe “o outro lado” de várias cenas conhecidas pelo leitor de Bolaño. Não se trata, todavia, de um livro apenas para especialistas; o romance representa um passeio pelos vários estilos e temáticas explorados pelo escritor chileno, alternando entre um registro cerebral, herdado de Borges, e uma sensibilidade poética despudorada.
As agruras do verdadeiro tira foi reconstruído após a morte de Bolaño, a partir de arquivos deixados em seu computador e páginas datilografadas. Apesar de se tratar de uma obra póstuma incompleta, o romance tem uma estrutura sólida e é um dos livros mais intrigantes do autor, com reflexões sublimes acerca da América Latina e da ambiguidade moral que muitas vezes envolve a literatura.