Dificilmente se achará na literatura universal um livro mais sugestivo e emocionante do que As confissões de Santo Agostinho. Como todo verdadeiro clássico, elas transcendem as categorias do espaço e do tempo para arrebatar o leitor de qualquer época histórica. Na sua linguagem pessoal e viva, confidencial e sangrante, esta obra eterna do bispo de Hipona é a comprovação do que ele mesmo deixou escapar num de seus escritos: «Que é o meu coração senão um coração humano?» Retórico e gramático, poeta e orador, Santo Agostinho faz vasto uso de todos os recursos estilísticos em voga na sua época. A presente tradução procura simplificá-los, de maneira a melhor ressaltar para o leitor de hoje todo o dinamismo da narrativa, do itinerário desse coração que andou inquieto enquanto não descansou em Deus. Nas digressões filosóficas, que hoje podem parecer densas, introduziram-se notas para tornar mais compreensíveis as suas implicações, sempre atuais: a verdadeira natureza de Deus, o problema do mal, a astrologia e, sobretudo, o dualismo maniqueu, que deixaria na alma de Agostinho uma concepção agônica da vida, da luta entre o espírito e a carne. Escritas com lágrimas e sangue, estas páginas não são um mero relato biográfico que se possa ler por pura curiosidade. São uma resposta viva às dúvidas sinceras do homem de hoje, que após séculos ainda vive e viverá a mesma aventura interior.