Uma velha escritora, “com setenta e dois longos anos pesando em minhas pernas varicosas”, escreve um diário íntimo durante treze dias de outubro (de 2005? — é o que parece...). Ela está no apartamento 1402 (14. andar) de um prédio num terreno em Botafogo, no Rio de Janeiro. Seu escrito trabalha com dois registros: o primeiro, que se passa nesse apartamento, é predominantemente memorialístico, da memória antiga, mas não só. O segundo, denominado “Na cidade”, por sua vez, trabalha com o presente, com a memória imediata, registrando andanças e observações de um olhar idoso e ao mesmo tempo nosso contemporâneo. Nos dois registros diversas coisas, objetos, esperanças, expectativas, ilusões, acontecimentos, impressões, personagens, sentimentos e pequenos delírios se cruzam. Porém não propriamente para se esclarecer ou iluminar mutuamente, como talvez esperasse um leitor contrafeito, senão que para “engrossar o caldo”, ou dar maior densidade à matéria narrada.A simpática velhinha espera para breve, antes que seja definitivamente devorada pelo câncer que a rói, o anúncio do prêmio Nobel de Literatura, que ela, com certeza, desta vez, ganhará. É de lembrar que o dito prêmio em geral costuma ser anunciado no mês de outubro de cada ano.No final o leitor terá uma surpresa, mas essa não se conta, já que é surpresa e convém chegar ao final do livro para encontrá-la.