Se a família enquanto instituição é fundamental para a constituição da subjetividade, as relações no seio familiar são sempre dramáticas! Elas podem colorir a nossa existência, dando-nos vivacidade, mas também podem assassinar as partes criativas e solidárias com a vida. Esses elementos, tão vívidos quanto as cores de Almodóvar, são matéria viva que entrelaça o ficcional, o pessoal e a experiência clínica de todo aquele que se mostra atento às experiências familiares, seja em consultório, seja em instituições como o judiciário, os hospitais, penitenciárias, abrigos, escolas, seja na nossa própria história. Diferentemente de outros cineastas, os filmes de Almodóvar não ficam datados. Isso porque sua personalíssima intimidade com o psiquismo humano torna a obra atemporal, tal qual o inconsciente. Nesta jornada pelos meandros das relações familiares, lugar de acolhimento, proteção e respeito, mas também lavoura arcaica que semeia, colhe e estoca abusos, sofrimento e violências, esta coletânea convida o leitor ao deleite de ver e rever os filmes que inspiraram as reflexões aqui contidas, a partir dos aportes da psicanálise. Veremos que são tênues e tenazes as linhas que ora separam, ora entrelaçam o individual e o grupal, o estranho e o familiar, as dores e as glórias. Este livro que formalmente se apresenta como coletânea é, antes de tudo, um entrelaçamento de histórias, de tempos, de vidas e de caminhos. É um trabalho acompanhado por memórias e também pelo prazer que a obra do genial Pedro Almodóvar suscita em todo aquele que está interessado na complexidade da vida psíquica e relacional humana.