Salomão Ben Isaac, mais conhecido como Rashi, foi um dos maiores estudiosos judeus de todos os tempos. São dele os primeiros comentários do Talmud – livros que contêm os debates em torno da Tora. Pouco se sabe, no entanto, sobre suas três filhas Joheved, Miriam e Raquel, mulheres que discutiram questões da lei judaica em pleno século XI, época em que o conhecimento ainda era interditado ao público feminino. Foram necessários cinco anos de pesquisa para a norte-americana Maggie Anton dar forma à trilogia As filhas de Rashi, cujo primeiro volume, Joheved, chega agora às livrarias pela Rocco. Rashi e suas filhas são personagens históricos e viveram em Troyes, no noroeste da França, no século XI. Para recriar o cenário de sua época, Anton fez um extenso trabalho de pesquisa, minuciosamente detalhado no livro. Como pano de fundo à história das três irmãs, o leitor descobre fatos fascinantes sobre a medicina, rituais, relações maritais, crenças e costumes da Idade Média. Naquele momento histórico na França, a comunidade judaica vivia uma era de ouro similar à que os judeus da Espanha desfrutaram antes da Inquisição, sem o anti-semitismo dos séculos seguintes. A narrativa começa em 1068 no momento em que a filha mais velha de Rashi, Joheved – que mais tarde vai ter que decidir entre a felicidade conjugal e o amor ao saber – descobre o prazer pelo conhecimento e conta com a ajuda do pai para desvendar as complicadas e fascinantes leis do Talmud. A saga familiar segue nos dois volumes subseqüentes da trilogia com as filhas Miriam e Raquel. A autora pesquisou a vida de Rashi e suas filhas durante cinco anos e usou como base o seu estudo de Talmud durante mais de uma década para elaborar os diálogos em que o texto sagrado é discutido. Entretanto, As filhas de Rashi está longe de ser hermético e a história de Joheved e suas irmãs é uma leitura prazerosa, sobre o amor ao saber e o superação de adversidades, mesmo para quem não tem intimidade com as tradições judaicas.