"No período de 1917 a 1921, o poeta Eduardo Guimaraens trabalhou na tradução de Les fleurs du mal, de Charles Baudelaire, do qual selecionou 69 poemas dos que integraram a edição de 1861, três dos seis censurados em 1857 e onze que foram incluídos em edições póstumas do livro de Baudelaire. Eduardo finalizou seu livro em 1927. Passados quase cem anos, a organizadora (neta do poeta) encontrou um volume atado com cordão de seda preto, na biblioteca da família. Eram os poemas traduzidos e datilografados, mais o prefácio e as notas do tradutor.Ao publicar Eduardo Guimaraens, dentro do princípio de não interferir na sua obra e seguir suas orientações, deixadas por escrito, foram procedidas somente as necessárias atualizações ortográficas, sem modernização do vocabulário. Para auxiliar o leitor a ingressar na atmosfera de Baudelaire e de Eduardo, ao término do livro, há um glossário. O livro traz em imagens fac-símiles partes do volume original encontrado.Apresentação:As Flores do Mal, de BaudelaireSelecção de Poemas – 1927Eduardo Guimaraens: tradutor-poeta-traditoreNo período de 1917 a 1921, Eduardo Guimaraens trabalhou na tradução de poemas de Les fleurs du mal, do qual selecionou 69 dos que integraram a edição de 1861, três dos seis censurados em 1857 e onze que foram incluídos em edições póstumas do livro de Baudelaire. Eduardo finalizou seu livro em 1927. Mansueto Bernardi, poeta e amigo de Eduardo, no prefácio que faz ao livro A Divina Quimera1, em 1944, destaca, no capítulo IV, a identidade entre Eduardo e Baudelaire, bem como a qualidade das traduções (páginas 26 a 35). Informa que, diante do silêncio que havia então em relação a esse trabalho, em 1933 encaminhou carta a Felix Pacheco “chamando sua atenção” para Eduardo: Procedia, nessa ocasião o ilustre acadêmico e diretor do Jornal do Comércio a um verdadeiro inquérito sobre a influência de Baudelaire nas letras portuguesas e brasileiras, sem fazer qualquer referência a Eduardo Guimaraens. Resolvemos, então, escrever-lhe uma carta, chamando a sua atenção para o autor da Divina Quimera, a quem, a nosso ver competia, sem contestação alguma, o título de maior baudelairista do Brasil e de Portugal. (pg. 26, transcrição com revisão ortográfica)Felix Pacheco – membro da Academia Brasileira de Letras que, além de ter traduzido vários poemas de Baudelaire, pesquisava a fundo a sua obra, como referido por Mansueto – passou então a mencionar Eduardo Guimaraens como importante tradutor do Poeta (como Eduardo se refere a Baudelaire em seu Prefácio e Notas). Na edição n.37 do Jornal do Commercio, de 12 de fevereiro de 1933, publicou, na página 3 e sob o título Charles Baudelaire nas traducções de Eduardo Guimarães2, os poemas “Bênção”, “O Albatroz”, “Elevação” e “Correspondências”. Em seu artigo, introduzindo a publicação do prefácio de Eduardo, nas páginas 8 e 9, salientou:Graças à gentileza do poeta de raça que é Mansueto Bernardi, podemos hoje oferecer ao público alguma coisa da admirável tradução das Flores do Mal, empreendida pelo seu malogrado e saudoso amigo Eduardo Guimarães. Só os íntimos do ilustre homem de letras do Rio Grande do Sul, tão cedo desaparecido, tinham notícia desse trabalho. Eduardo Guimarães começara pacientemente a elaborá-lo a 8 de março de 1917 e deu por findo em 19 de janeiro de 1921. São, pelo menos, as datas que figuram no fecho do volume.As melhores edições comentadas de Baudelaire, entretanto, só vieram a lume a partir de 1921, que foi exatamente o ano do centenário do nascimento do poeta. (...)Eduardo Guimarães fechou os olhos no Rio, em 1928 (...)As suas traduções das Flores do Mal já estavam, a esse tempo, terminadas desde sete anos antes, e passadas a máquina, com os últimos retoques da mão de mestre do artista. Não é todo o livro famoso. São, porém, oitenta e três das cento e cinquenta e oito produções deixadas pelo gênio infortunado; e nenhum tradutor brasileiro até então se abalançara a tanto. Mas, aí, não é só na quantidade que a musa de Eduardo Guimarães excele e brilha; brilha e excele igualmente pelo esmero das versões, pelo sentimento de fidelidade ao original, e, mais que tudo, por uma penetração clarividente do pensamento do autor e perfeita comunhão com a arte maravilhosa do grande poeta francês. Uns anos mais de vida, o conhecimento da bibliografia baudelairiana mais recente, o repasse geral das obras de prosa de Charles Baudelaire, e não há dúvida que Eduardo Guimarães teria feito com ele no Brasil o que fez com Edgard Poe na França.Ainda assim, ninguém poderá mais nunca dissociar entre nós esses dois nomes: o traduzido e o tradutor viverão luzidamente parelhos em nossa história literária.Artista algum teve aqui um contato mais amorosamente demorado com as estrofes de Baudelaire do que Eduardo Guimarães, nem ninguém aspirou mais longa e regaladamente do que ele o perfume agudo e sutil das Flores do Mal.Os novos do Rio Grande do Sul devem ter orgulho desse alto expoente do amor à Beleza naquela terra ainda em formaçã