As lesbianidades foram silenciadas historicamente a partir do momento que não eram nomeadas tanto pela ciência quanto pelo senso comum. Este livro analisa as configurações léxico-semânticas usadas para nomear as lésbicas, dentro do contexto sociocultural de cada obra, bem como diante das especificidades dos folhetos de cordel. Diante dessa constatação, alguns questionamentos são pertinentes: o que tem sido escrito sobre as lésbicas? Onde suas falas aparecem? Nos estudos feministas? Na história das mulheres? Quem são as lésbicas? Um silêncio profundo foi e continua sendo, embora não tão profundo, a marca mais visível quando tentamos pensar nas questões propostas. A reflexão sobre os sentidos expressos no desconhecimento ou escassez dos estudos sobre lesbianidades na literatura, e mais especificamente aquela representada pela produção cordelista, encontra em teóricos como Mott (1987), Albuquerque Júnior (1999), Butler (1999), Doyle (1956), Foucault (1988), Lardinois (1995), Lessa (2004), Portinari (1989), Rich (1993), Viñuales (2002), dentre outros, embasamento para a problematização e análise da temática em questão, diante da produção literária de forma geral, aqui mais especificamente utilizando-se do cordel como suporte. Essa escassez é ratificada pela catalogação dos folhetos para esta obra, pois num universo de 32.246 cordéis pesquisados, trabalho com um recorte de apenas 25 para analisá-los pela temática das lesbianidades, existindo em menor quantidade em relação aos cordéis sobre o gay masculino, que encontramos facilmente cinco vezes mais em número, nos mesmos acervos. Os cordéis representam possibilidades de visibilidade para as lésbicas a partir de sua nomeação representada pela linguagem dos versos. Mesmo que seja de forma estereotipada, os cordéis possibilitam pensar as lesbianidades em suas nuances utilizando desde termos como lésbica, sapatão, homossexual, gay, até expressões como mulher macho e mulher masculina. Este livro apresenta, além da catalogação dos cordéis que versam sobre as lesbianidades nos mais diversos acervos do Brasil, uma multiplicidade de representações para dizer a lésbica, configurando-a enquanto mulher que tem relação amorosa e/ou sexual com outra mulher, mantendo-se numa perspectiva binária.