Se você nunca ouviu falar do que acontece aos meninos de rua que somem, sem que ninguém saiba dizer, nem os passarinhos das praças, aonde foram parar, leia este livro. Ele é sobre crianças que não são como as outras crianças. É sobre essas crianças que ninguém olha de frente, que não têm quem as defenda de nada, cuja escola é a perversidade das ruas da cidade. É sobre gente pequena que não teve tempo de ser pequena - que passa fome e que muito cedo vira ladra. Mas não pense que você está diante de algum livro-denúncia não, de uma reportagem em cima do fato, quando este ainda espirra sangue, como fazem certos canais de TV. Essa história teria – ou poderia ter? – acontecido na sua cidade, na sua praça mais mal falada. É uma novela de detetives, em que o detetive, infelizmente, não parece nenhum tira fenomenal como os dos filmes norte-americanos. Nela há pelo menos um policial honesto e preocupado com a justiça e com as crianças, como deve haver tantos outros pelas cidades do País. O problema é que ele não consegue combater muito bem os bandidos, já que estes, além de serem maioria, também são polícias e se safam – quase sempre, ainda resta uma esperança – ao abrigo da lei. Os verdadeiros heróis, porém, não são nem o detetive decente nem os meninos explorados, perseguidos, baleados e raptados por uma rede internacional ligada à Máfia. Não se surpreenda, mas quem está no comando dessa história são uma menina vendedora de espigas de milho e uma velha professora de matemática que não percebia lá muito bem que seus alunos de vila popular não tinham a menor ideia do que fosse um kiwi. Prepare seu coração, porque o ritmo é alucinante, o crime que ameaça os meninos é hediondo para além das classificações do Código Penal e os únicos que podem impedi-lo são um vagabundo bêbado e coxo e as meninas da Praça da Alfândega. E não diga que o autor perdeu o siso e onde se viu contar uma história cabeluda dessas para crianças. O mundo pode ser igual à casa dos ogros dos contos de fadas.