Publicado em 1965, ao lado de Marques Rebelo, Carlos Heitor Cony, João Antonio e Campos de Carvalho, entre outros, na coletânea de contos Os dez mandamentos, As mortes e o triunfo de Rosalinda ocupa um lugar sui generis na obra de Jorge Amado.
O autor definiu seu texto como "tentativa frustrada de estabelecer a escola do realismo anárquico" e o dedicou a Campos de Carvalho, expoente da literatura do absurdo no Brasil. Trata-se do jorro verbal, em primeira pessoa, do assassino confesso de Rosalinda, diante de um interlocutor que muda a todo momento: é alternadamente um militar, um bispo, um desembargador, uma madre superiora e outros representantes da autoridade.
Ao longo da sua dissertação, a própria Rosalinda se revela um ser fantástico, de muitas vidas e muitas mortes nos quatro cantos do planeta: "Rainha do Carnaval, princesa hindu, membro do comitê central de todas as confrarias eclesiásticas e de todos os partidos superados ou em via, madre superiora e pomba do pecado, dona de casa de mulheres-damas, presidenta da obra em benefício das mães solteiras, sem falar nos títulos universitários".
Em suas múltiplas faces, Rosalinda acaba sempre por colocar em xeque a supremacia masculina, levando seu amante a desejar destruí-la. Sátira feroz dos poderes instituídos, As mortes e o triunfo de Rosalinda subverte igualmente as convenções literárias e as prisões da lógica.
Ilustrado pelo artista gráfico Fernando Vilela e comentado pelo escritor angolano Pepetela, ganhador do prêmio Camões (1997), o livro faz parte da série de contos ilustrados de Jorge Amado, ao lado de O milagre dos pássaros e De como o mulato Porciúncula descarregou seu defunto.