Creio que o conto ainda é o gênero literário em prosa mais praticado em toda parte. Existe a opinião equivocada de que, por ser curto, ele é fácil. No entanto, exige do autor acentuada capacidade de síntese e habilidade no uso apropriado das palavras para sugerir situações que não pode descrever por falta de espaço. E isso não são muitos os que conseguem.Miguel Jorge, como vem confirmar este livro, é um exímio contista. Nele se reúnem todas as qualidades exigidas para exercitar com sucesso a short story. É dotado de criatividade e imaginação para criar histórias envolvente, figuras com personalidade bem definida e situações convincentes. Explora com segurança o pensamento e as mais íntimas cogitações delas em histórias em que o movimento cede espaço à intimidade e às cogitações.Seus contos passeiam pelas mais variadas situações e expõem, toda a gama de sentimentos humanos. Existem paixões avassaladoras, amores não correspondidos, inveja, tristeza, alegria, ternura e sonho. Por outro lado, existem situações opressivas e tão pesadas em que o leitor mal se ateve em respirar.O autor é hábil como poucos na criação desses climas sufocantes. Também ocorrem desenlaces inesperados, surpreendentes e às vezes chocantes. O conto-título é perfeito retrato da mais brutal intolerância, provocando revolta diante da reação dos pais e da angustiante situação do filho.No que respeita ao estilo, diria que Miguel Jorge é personalíssimo. Usa com sucesso a divisão do texto em cenas, tópico e, atos que semelham montagens teatrais. Também se vale de expressões próprias e de versos inspirados pelas situações engendradas. O diálogo é pouco presente nestes textos onde predomina o lado psicológico.Estou certo de que este livro está fadado ao sucesso e foi com intenso prazer que o li. Vale a pena uma leitura atenta e vagarosa.Enéas Athanázio