cabaça: uma convocação dos mortos enquanto solicitação e ulterior mediação de visibilidade entre os vivos | carta: a intimidade assusta porque implica divisão e revelação | descansos: hoje morri pela beleza na delicadeza das palavras | despertar: reconhecer a nós mesmos exige abrir mão de toda a nossa negação | grito: falsas verdades, lições da opressão gritadas, estampadas, escancaradas sem a menor cerimônia na nossa sala, na nossa cara | hiato: à beira do precipício, não há grande diferença entre a outra margem e o fundo | imperfeição: tudo o que já foi, todo o passado carrega em si a perfeição de ter sido tudo o que foi possível ser | redemõno: amálgama de barbárie e crueldade, onde a política encontra-se com a metafísica | impermanência: o verso no inverso quer se declamar | invisibilidades: é preciso saber ver o que nos escapa | letramentos: a leitura rebelada, emancipada do significado e do sentido | miserere: a misericórdia é a experiência mais profunda para despertar, naquilo que é por ela convocado, o reconhecimento da sua própria originalidade | palavreado: enchendo o seu bisaco com os mais diversos palavreados dos lugares | permanecer: o sangue está do lado de dentro, o sangue está misturado com os nossos trejeitos, no modo de falar e sentir | por que: o que seria de minha alma sem a primavera giratória de Van Gogh, na ausência dos sóis em flor que doem e maravilham? | sobrevivências: então, aprendi: todas as orações são selvagens.