Cinquenta anos depois da revolução coperniciana causada na Igreja pela Declaração Nostra Aetate é mister reconhecer que o parágrafo n° 4 deste documento relativo à "Religião judaica" constitui, do ponto de vista da recepção eclesial, um dos documentos mais lido, discutido e reconhecido pelos teólogos na Igreja. Poder-se-ia indagar aqui sobre as causas desta grande recepção e ao mesmo tempo se perguntar por que Nostra Aetate tem ainda dificuldades para atravessar e marcar o tecido eclesial do sensus fidelium que fundamenta e protege a Igreja como Povo de Deus.
Na declaração Nostra Aetate n° 4, os bispos conciliares reconhecem e afirmam o "grande patrimônio espiritual comum aos Cristãos e Judeus" que são as Escrituras, lidas e interpretadas àluz da Tradição de Israel e da Igreja. Para melhor usufruir deste "patrimônio comum", o Concílio, assumindo como seu, o pedido de Jules Isaac, um judeu professor francês pioneiro do diálogo judeu-cristão na Europa, "quer fomentar e recomendar a ambas as partes mútuo conhecimento e apreço", os quais são indispensáveis para se criar as bases do re-encontro entre Judeus e Cristãos. Este encontro ou re-encontro poderá ser obtido principalmente pelos estudos bíblicos, teológicos e por diálogos fraternos. Trata-se de três atitudes ou posturas que são complementares e essenciais para o futuro do re-encontro. O estudo tanto bíblico como teológico pode qualificar o diálogo fraterno, e o encontro fraterno enriquece e cria condições para aos poucos enfrentarmos as grandes questões bíblicas e teológicas próprias ao "patrimônio comum".
Do prefácio de Pe. Dr. Donizete Luiz Ribeiro, NDS
As relações entre Judeus e Cristãos se encontram no interior dos Evangelhos e neste livro Pe. Manoel Miranda situa e analisa as diferentes razões de uma possível separação entre Judeus e Cristãos a parti r do Evangelho de São João. fazendo jus ao "patrimônio comum" recomendado por Nostra Aetate, Pe. Manoel Miranda analisa com nuances diversos textos neotestamentários e demonstra que contrariamente às aparências ou ideologias, a separação entre Judeus e Cristãos acontece de maneira gradativa, localizada e depois de muitas décadas de convivências e de encontros. Assim, entre Judeus e Cristãos, o encontro precede de muitos anos os desencontros. A parti lha do "patrimônio comum" foi centenária e muito aquém e além das divisões e separações. Esta tese fundamental, defendida com brilho pelo Pe. Manoel, se encontra nos últimos anos confirmada pela grande co.