Por ter descartado todos os fatos, a gênese hipotética da sociedade civil acaba perdendo todo ponto de apoio; mas, por outro lado, a história empírica, por insistir nos fatos propriamente ditos, despida de toda conexão racional, chega ao pirronismo: é por isso que a cisão gênese/história se mostra insustentável. A partir disso, o problema passa a ser o da injeção do significado nos fatos: o que é comumente chamado (obscuramente) de "filosofias da história". O quadro histórico francês, a história natural escocesa da humanidade e a teodiceia alemã da história constituem, no último terço do século XVIII, três grandes tentativas para resolver esse problema. Mas todos os três são desenvolvidos de acordo com circunstâncias específicas, de modo que não se trata do mesmo significado, nem dos mesmos fatos, muito menos da mesma articulação entre significado e fato. O presente trabalho visa à comparação sistemática e minuciosa dessas três tentativas, cujas soluções se mostram aporéticas, o que não significa estéreis. Ao regressar a tais fontes, não estamos apenas descobrindo o quanto as categorias de "filosofia da história" e "historicismo", como são manipuladas hoje, são ilusórias: também podemos esclarecer nossa estranha impotência para pensar o futuro, ou seja, para desenvolver um horizonte de expectativa coerente (mesmo que ilusório) sobre o qual apoiar o controle do presente.